domingo, 28 de janeiro de 2018

Comunicação do Risco: qual a importância disso?

Até aqui já trilhamos um caminho para entender qual a importância da Comunicação no campo da Saúde. A interlocução entre os profissionais de saúde e a população é fundamental para se criar um diálogo permanente em torno de questões tão complexas que a Saúde engloba. Segundo Rangel (2007), no Brasil por exemplo, desde o início do século passado, a Comunicação enquanto prática social vem sendo interpelada no campo da saúde de modo a se articular às políticas de saúde e às estratégias de controle sanitário. Nesse sentindo, trago aqui uma discussão acerca da Comunicação de riscos, uma questão bastante diversificada e abrangente na área da Saúde.

O risco é algo que demanda muita atenção e foco na área da Saúde, ao considerar que vivemos numa sociedade repleta de coisas que podem vim ser (ou já são) um risco a nossa saúde individual e coletiva. Assim, com o intuito de atuar na prevenção dos riscos e ao mesmo tempo promoção da saúde, vem-se pensando em diversas estratégias que possam enfrentar os muitos riscos a qual a saúde da população está exposta. Uma dessas estratégias é justamente a Comunicação dos riscos, que basicamente diz respeito à forma como os riscos eminentes à saúde podem ser transmitidos para a população e assimilados de forma educativa.

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Segundo Rangel (2007), nas últimas décadas, a ferramenta usada por muitas países desenvolvidos para lidar com esses questões que envolvem a sobrevivência da sociedade frente a situações de riscos é a Análise de Risco. E nesse caso, de acordo com alguns autores, entende-se por análise de risco, a identificação de danos potenciais aos indivíduos e a sociedade de acordo com a estimativa provável de que ocorra algum dano mediante dados anteriores, análises estatísticas, observação sistemática, experimentação ou intuição. Ou ainda, um conjunto de conhecimentos que gera a probabilidade da ocorrência de um efeito adverso por algum agente (físico, químico, biológico, outros), processos industrias, tecnologia ou processo natural os quais, no caso campo sanitário, estão relacionados com a ideia de dano à saúde, seja por doença, agravo e até mesmo a morte (RANGEL,2007).

No entanto, ainda segundo Rangel, existem autores que evidenciam críticas às análise de risco tecnológicos ou ambientais, por haver falhas na dimensão social em considerar aspectos da subjetividade, percepções e atitudes daqueles que aos riscos estão expostos. E nesse caso, uma das tecnologias a se analisar é a comunicação do risco que pode ser compreendida como "o intercâmbio interativo de informações e opiniões sobre os riscos entre as pessoas encarregadas da avaliação dos riscos e do gerenciamento dos riscos, os consumidores e outras partes interessadas" (RANGEL, 2007). Assim, podemos considerar que a Comunicação de risco envolve a forma que o mesmo será informado a população até a maneira como ele será recebido, no sentido de que essa interação venha causar nas pessoas a consciência de algum dano ou perigo e possível mudança de comportamento.
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Atualmente, podemos identificar diversos riscos que ameaçam a saúde pública, desde falta de saneamento básico até surtos de alguma doença infecciosa, não são poucos os diversos riscos que a população pode estar exposta. Assim, é de extrema relevância a forma como esses riscos vão ver comunicados e em qual contexto eles serão abordados, o que nos faz refletir sobre os meios de comunicação (mídias) e os profissionais responsáveis por transmitir esse informação. As agências de notícia tem um papel estratégico e essencial na veiculação de informações que lidam com situações críticas de risco à saúde, cabendo aos profissionais de saúde elaborarem as estratégias que vincularão esses informações. Considerando, que a informação é assimilada de diferentes maneiras pelas pessoas a depender a sua visão de mundo, podemos afirmar que há muitos desafios para comunicação do risco, desde de diálogo com as diversas culturas até a elaboração de um plano educativo.


Referência:


RANGEL-S, Maria Ligia. Comunicação no controle de risco à saúde e segurança na sociedade contemporânea: uma abordagem interdisciplinar. Ciência & Saúde Coletiva, 12(5):1375-1385, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v12n5/29.pdf

sábado, 27 de janeiro de 2018

A Polifonia no Espaço Urbano: Buscando Símbolos

A Comunicação é uma das necessidades inerente ao homem. Seja onde for, precisamos nos comunicar para buscar aquilo que queremos ou pretendemos. Mas não são só as pessoas que comunicam, as coisas que nos cercam são dotadas de simbologia, onde cada um desses símbolos nos trazem alguma figuração, expressão ou informação. Nesse sentindo, logo pensamos no espaço que ocupamos, na casa em que moramos, no município em que habitamos... Ou seja, o ambiente ao qual estamos inseridos nos influencia de alguma forma e isso é bastante evidenciado através da polifonia nos espaços urbanos.

As cidades compreendem espaços urbanos de ricos campos de comunicação, seja pelas diversas coletividades humanas em contato nos espaços públicos, seja pelo conjunto de estímulos visuais que proliferam nas ruas. Então, além de serem palcos de importantes acontecimentos sociais, culturais, políticos, bem como centro de fluxos financeiros e trocas comercias, as cidades são espaços de articulação de sentidos e experimentação das diferenças no interior do qual subjetividades, criadoras ou não, podem ser geradas. Nesse sentido, segundo Sodré (2006),uma característica marcante da comunicação que podemos encontrar nas ruas das grandes cidades é seu caráter predominantemente visual, isso porque as imagens prevalecem em detrimento da linguagem verbal. Dessa forma, a predominância dos imagens na comunicação urbana contribui para que as mensagens sejam rapidamente mais assimiladas num ambiente marcado pela velocidade dos fluxos humanos e pela proliferação dos signos comunicacionais que disputam o olhar de quem passa (SODRÉ, 2006).

Resultado de imagem para salvadorA partir disso, considerando a diversidade de elementos que constituem o cenário comunicacional da cidade, podemos compreender que a comunicação urbana é marcada pela polifonia, pois está repleta de elementos estética, conteúdo e propósitos particulares. A polifonia compreende um conjunto de vozes, e nesse caso, os diferentes signos que constituem a paisagem das cidades  integram um imenso coral urbano , em que cada elemento pode ser considerado como uma voz que canta em determinado tom fragmentos de uma mesma canção polifônica. Mais especificamente, é possível identificar que na cidade esses vozes, por vezes ditas contraditórias, coexistem em constante luta simbólica devido a disputa de  ideias e posições subjetivas geradas por elas e, principalmente, pela ocupação dos espaços (SODRÉ, 2006).

Ainda segundo Sodré (2006), a comunicação nas ruas diferentes da comunicação de massa (das mídias) tem uma particularidade que é o imperativo sobre as pessoas, pois, seja por onde passamos, podemos visualizar diversos elementos independente da nossa vontade. E quando se trata de grandes cidades marcadas como grandes centros comerciais, há uma profusão de signos comunicacionais que ocupam os lugares públicos e interpelam, de diversas maneiras, os cidadãos. Assim, para identificar tais signos caraterizados como as vozes que compõe a polifonia nas cidades, considera-se três aspectos que expressam como isso pode interferir na construção das subjetividades das pessoas: Arquitetura, paisagismo e urbanismo; comunicação institucional: publicidade ao ar livre e Comunicação marginal: inscrições urbanas (SODRÉ, 2006).

Nesse sentido, trago três imagens que caracterizam cada um desses aspectos como vozes que comunicam a cidade de Salvador e que provocam alguma reflexão na subjetividade dos cidadãos soteropolitanos que as visualizam. Esses imagens, na verdade, paisagens refletem cada um desses aspectos e, de certa fora compõe, um conjunto de vozes expressam a polifonia da cidade de Salvador.

  • Pelourinho: Casas com arquiteturas marcantes no Centro Histórico de Salvador
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Referência do período colonial brasileiro, o Pelourinho é uma expressão máxima de Arquitetura, paisagismo e urbanismo que marcam a história de um povo. Considerado Patrimônio Histórico pela UNESCO, o Pelourinho representa o Centro Histórico de Salvador com suas diversas construções em estilo barraco. Berço da história nacional brasileira, é tido como deslumbrante e berço da cultura por muitos soteropolitanos e turistas que o visitam diariamente, mas para diversas outras pessoas, é visto também como uma área de insegurança e detentor de várias histórias de sofrimento de um período marcado pela Escravidão...

  • Outdoor com Propaganda da Prefeitura de Salvador
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Interessante que quando pensamos em propagandas em Outdoors logo nos remetemos à publicidade de algum produto, serviço ou lugar proveniente de alguma entidade privada. Entretanto, em Salvador, uma das entidades que mais fez propaganda é a própria prefeitura. Não basta fornecer o serviço a população, a Prefeitura de Salvador precisa divulgar o que fez. Claro, fazer o marketing não é o problema, a questão é que a prioridade do Palácio Thomé de Souza não deveria ser essa...

  • Grafite em Escadaria na Orla de Salvador
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O grafite faz parte da cultura urbana de qualquer grande cidade e em Salvador não é diferente. Por diversos cantos da cidade podemos encontrar um muro marcado por uma pintura característica. No caso de Salvador é muito comum identificarmos grafites que fazem referência a cultura símbolo da cidade e há meu ver é o caso da arte acima...

Todos essas imagens podem causar diversas impressões nas pessoas que as visualizam. Há quem admire, há quem ignore, há quem critique, há quem elogie... O fato é que esses são elementos que caracterizam as vozes de uma grande cidade e ao mesmo tempo mexem com a subjetividade das pessoas que as presenciam. Assim, numa cidade, para identificarmos elementos que nos comunique alguma coisa, basta sairmos por aí em busca de símbolos.


Referência:


SODRÉ, R.F. A comunicação na cidade: polifonia e produção de subjetividade no espaço urbano. Intercom, set. 2006. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R1072-1.pdf>. 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Comunicação e Educação em Saúde Coletiva

Comunicação e Educação constituem dois campos de saberes e práticas que permeiam o trabalho de diversas profissões. E, apesar de haver a formação específica no área da Comunicação e da Educação, a relação estabelecida entre cada uma e o trabalho de algumas profissões é quase sempre de cunho social. Na área da Saúde, por exemplo, a Educação constitui uma prática inerente a qualquer profissional e se configura como uma responsabilidade social; já a Comunicação pode ser compreendida como um instrumento para gerar conhecimento em Saúde através da Informação.

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A Informação em Saúde, assim como em qualquer outra área, compreende o processamento e transformação de dados, como por exemplo, a análise de procedimentos estatísticos/epidemiológicos. A princípio, a Comunicação não tinha vínculo com Informação, mas com o passar do tempo, passou a atentar a esses procedimentos pelos quais a informação podia ser trabalhada e transformada em saberes pelas pessoas e instituições. Já a Educação, que surgiu vinculada às áreas técnicas, por muito tempo, não esteve associada aos ideais da Comunicação, percorrendo caminhos distintos e nem sempre amigáveis. Porém, recentemente, vem se buscando associar Educação e Comunicação, de forma a alinhá-las a luz dos princípios do SUS no contexto da Saúde Pública (ARAÚJO, 2007).

Considerando cada uma separadamente, a relação entre Comunicação, Educação e Saúde pode ser delimitada como um campo de interface entre três diferentes campos disciplinares e práticas sociais, ou ainda, uma direcionalidade instrumental de um campo sobre o outro com produção de efeitos.  Nesse sentido, compreende-se  então que, antes de tudo, esses três campos se interconectam, primeiro em torno da comunicação, que como fenômeno de linguagem, é constitutivo de qualquer experiência humana pelas relações intersubjetivas de sujeitos de linguagem. Assim, a Comunicação é inicialmente, uma condição intrínseca de vida e saúde. Segundo, a Saúde caracteriza-se como um processo histórico e social que se constitui por relações intersubjetivas de sujeitos em sociedade, organizados para precaver ou agravar a sua saúde e a própria vida. Terceiro, a Educação, portanto, implica em processos de aprendizagem que pressupõe saberes adquiridos pela experiência intersubjetiva, nesse caso, sobre saúde e doença, por meio da interação social, quando se desenvolve uma comunicação significativa para os sujeitos da ação. (RANGEL, 2010).

Com isso, podemos considerar que a Comunicação em Saúde ocupa um papel central tanto na produção de saberes pela informação como nos processos de aprendizagem conduzidos pela Educação. Para isso, é preciso considerar a comunicação não se dissocia da noção de direito à Saúde, pois tem como objetivo o aperfeiçoamento de um sistema público de saúde em todas as suas dimensões e a participação efetiva das pessoas na edificação dessa possibilidade. Isso se relaciona com um a adesão das pessoas um debate público que implique a ampliação da participação social nas políticas de Saúde. Isso porque, considerando a saúde pública como lugar de embates da luta por hegemonia, a Comunicação como parte dessa luta pode direcionar a natureza e a qualidade de suas práticas para a transformação das estruturas e relações de poder ou para a manutenção delas. (ARAÚJO, 2017).



Referências:



ARAÚJO, I. S.; CARDOSO, J. M. A Comunicação e os princípios do SUS. In: ARAÚJO, I. S.; CARDOSO, J. M. Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007. p. 19-34

RANGEL-S, M.L. TEXTO DIDÁTICO - Comunicação, Educação e Saúde: exercício para percepção e ação nas interfaces. Mimeo, 2010.

Um Plano para além da Comunicação em Saúde...

Percorrido um caminho até aqui, chegamos às vias de fato que é o tal Plano de Comunicação e Educação em Saúde... E ainda bem que a Educação...